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Jorge Pedrosa

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terça-feira, 16 de março de 2010

Discriminação daqui e discriminação de lá

Uma amiga paulista, que mudou-se pra Europa, um dia disse pra mim que era estranho pra ela ser discriminada aqui, por que ela tinham percebido que, de repente, ela é que era a “paraíba”… E olha que trata-se de uma mulher maravilhosa, “de esquerda”, socialmente consciente. Mas, a discriminação contra nordestinos é tão latente no Brasil que ninguém nem percebe.
Fiquei pensando nisso e em porquê não tenho problemas nenhum com discriminação, em lugar nenhum do mundo. Talvez por que eu sou nordestina, pernambucana, já tenha criado uma couraça de proteção há muito tempo. Já tive que trabalhar minha auto-estima desde sempre e perceber que não sou nem um pouco pior que os colegas do Sul e Sudeste do meu próprio país.
Viajei o mundo todo, a trabalho, e o único lugar em que me senti inferior foi no Nepal, em Kathmandu ao admirar o desapego e a espiritualidade daquele povo lindo, pobre e feliz. Fora isso, sempre me senti no mesmo nível dos outros, com uma pequena vantagem, que era a famosa criatividade brasileira.
Estou aqui há pouco tempo, mas estive na Suécia muitas vezes, antes. Nunca me senti discriminada, talvez por que nunca prestei atenção a olhares enviesados. No Brasil, passei por tantas situações de discriminação, por ser nordestina, que, se é que existe algo aqui, não é nada, em comparação com o que já enfrentei no Brasil.
Em 1992, assumi a coordenação de uma campanha nacional (Semana Mundial da Amamentação) que estava sendo lançada no Brasil. Uma pessoa importante do Rio de Janeiro me disse, claramente, por telefone que eu não conseguiria, que deveria repassar para outra pessoa do eixo Rio-SP. Respondi que, com um telefone e um fax (ainda não existia Internet pro público!) eu faria isso até de uma fazenda no Goiás.
Eu trabalhei feito louca. No primeiro ano, apenas 32 cidades participaram desa campanha. No ano seguinte mais de 400 cidades, depois mais de 1000 cidades e, a partir daí, recebemos relatórios informando que cerca de 5.000 cidades estavam envolvidas. O sucesso foi tanto que, em 1997 fui escolhida pra coordenar essa campanha em nível internacional.
Talvez eu deva muito a essa pessoa preconceituosa, que não acreditava em vida inteligente no Nordeste, porque foi ele quem me deu garra pra provar que eu ia conseguir, e acabei, na verdade, superando até as minhas próprias expectativas.
Esse foi apenas um exemplo. Aconteceram vários outros. Por isso, talvez, eu não tenha nenhum problema com discriminação aqui. Meu próprio país já me ensinou o que é discriminação e que isso dói, mas é feito topada… pode botar a gente pra frente!

Fonte:http://sindromedeestocolmo.com

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