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Jorge Pedrosa

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI


O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos, que é santo de romaria,
deram então de me chamar Severino de Maria
como há muitos Severinos com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia, por causa de um coronel
que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela, limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia com nome de Severino
filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual, mesma morte severina:
que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima,
a de tentar despertar terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir a história de minha vida,
passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.



Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
O gênio Pernambucano das letras.

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